Site Meter Sem Salto Alto: 22/10/2006 - 29/10/2006

terça-feira, outubro 24, 2006

Para ler e refletir

No Lancenet, vi outra notícia curiosa do futebol espanhol. "Roberto Carlos fratura dedo ao tentar segurar Messi". A contusão ocorreu no último domingo, no clássico Real Madrid x Barcelona, vencido pelo time madrilenho. Vi a partida e tenho quase certeza que RC conseguiu a fratura depois de tomar um drible humilhante de Messi e cair em campo, desequilibrado, atordoado e com cara de "anotem a placa do caminhão". Tive que rir...
Ouvi alguém aí no fundo dizer "hora de pendurar as chuteiras"? Ou, especificamente no caso dele, o meião?

Indiscutível Ronaldinho

“Eu sei que o brasileiro e Satã têm algo em comum. Como se sabe, o abominável Pai da Mentira é um impotente do sentimento. Não há, em toda sua biografia, um único e escasso momento de ternura. (...) Pois bem. Já o brasileiro é o impotente da admiração. Não sabemos admirar, não gostamos de admirar. Ou por outra: - só admiramos num terreno baldio e na presença apenas de uma cabra vadia. (...) Somos o povo que berra o insulto e sussurra o elogio.”

Nélson Rodrigues escreveu isso na crônica “O escrete precisa de amor”, no ano de 1966. Se referia à Seleção Brasileira, mas pensei nesse trecho especificamente não em relação a ela, mas a ele: Ronaldinho Gaúcho. Já estava pensando nisso há algum tempo, mais exatamente desde a Copa, quando começou a onda de críticas em torno do camisa dez do Barça.
A princípio, após a pífia atuação do Brasil na Alemanha, brotaram teorias, argumentos, broncas e afins em relação ao cara. “Jogador de clube, não de Seleção”, era o que todas elas diziam (quando não claramente, em essência). Com a nova “Era Dunga” na Seleção, na qual visivelmente medalhão algum tem colete no time titular antecipadamente, o coro só aumentou.
Pensei que fosse ficar restrito a isso: aos altos e baixos na Seleção, já que Ronaldinho Gaúcho era unanimidade no Barcelona. O verbo está na conjugação certa: era. Fiquei espantada ao constatar isso com uma notícia que vi no Lancenet hoje, com o título “Torcedores do Barcelona querem Ronaldinho na reserva”. Li, meio descrente. Mas era verdade. Em pesquisa feita pelo jornal “Sport” em seu site, 69% torcedores que opinaram disseram que gostariam que Gaúcho sentasse no banco. Era apenas uma das perguntas feitas e no geral, o resultado apresenta a preocupação da torcida com a má fase (?) do time catalão. Me pergunto que má fase será essa, se o time lidera o Espanhol (junto com o Valencia, mas com um gol a mais no saldo); se está vivo na Liga dos Campeões (está em segundo, cinco pontos atrás do Chelsea, que convenhamos, não é nenhum timeco), num grupo que ainda conta com o equilibrado Werder Bremen.
Bom, não quero discutir se a fase é ou não ruim para o Barcelona. O que me espanta é a facilidade com que surgem brados ferozes para falar mal de um alteta como Ronaldinho Gaúcho. Falar mal, não; desancar. De melhor do mundo a jogador mediano. Juro, já ouvi no ônibus e nas “mesas-redondas” de esquina que “o cara não é tudo isso”.
Não mesmo? Revejam as jogadas dele (o You Tube está aí para isso). Revejam tudo, desde os tempos no Grêmio. Aliás, desde os tempos de molequinho, jogando futsal, nas imagens que até a Nike aproveitou para fazer um comercial. Relembrem que ele foi o cara que a torcida do Real Madrid aplaudiu de pé, após liderar a histórica vitória do Barcelona por 3 a 0 contra os merengues, dentro do Santiago Barnabéu (e isso há de ter algum significado metafísico, além do óbvio fato histórico).
Lembro de todos esses lances. Lembro que ele é humano – mesmo tendo uma capacidade digna dos deuses. Me pego pensando nas coisas que ele ainda irá fazer. E constato que a verdade rodriguiana não se limita aos brasileiros ou a Satã; se estende aos catalães, a boa parte da imprensa esportiva e a alguns amantes do futebol. Exatamente aquelas pessoas que deveriam lembrar o valor de um Ronaldinho.
Criticar sim; mas daí a transformá-lo em jogador qualquer, não. Ronaldinho Gaúcho é gênio. E como também disse Nélson Rodrigues “a única coisa indiscutível no mundo é o gênio”.