Site Meter Sem Salto Alto: 24/02/2008 - 02/03/2008

sábado, março 01, 2008

Jogando por ópera

Cuca e Botafogo: vocação mútua para o drama Cuca e o Botafogo: vocação mútua para o drama

O Botafogo é um clube atípico. E digo isso não como uma crítica ou elogio. Digo como quem olha para cima e constata que o céu é azul.

Não sei se foi destino ou acaso. Se foi azar ou sorte. Não saberia precisar qual conjunção astrológica foi capaz de unir tamanha fome com tanta vontade de comer. O que sei é que as peças encaixaram-se perfeitamente, num quebra-cabeça extremamente passional. As peças? Bebeto de Freitas, Montenegro, Cuca, os jogadores e torcedores do Botafogo.

O Botafogo de hoje é uma sucessão de atos dramáticos. Se jogasse por música, os alvinegros jogariam por ópera. Tensão e drama do início ao fim. E isso não foi deflagrado pela derrota na decisão da Taça Guanabara. Foi, no máximo, levado ao extremo. Mas a vocação pelo drama... Essa estava lá há tempo, encravada e latente no clube de tal forma, que nem o xixi do Manequinho conseguiu eliminar.

O Bebeto que discutiu com jornalista na coletiva, que tirou o microfone do Lúcio Flávio para poupá-lo do delicado “momento emocional”, o Bebeto que renunciou – ou melhor, licenciou-se do cargo – é o mesmo que disse que tinha vontade de pular da Ponte Rio-Niterói por conta de um empate com o Friburguense.

O Montenegro então... Nem se fala. Este já chamou jogador de sem-vergonha, de frouxo e gritou horrores para a bandeirinha que anulou gols do clube contra o Figueirense, na semifinal da Copa do Brasil de 2007. Ah! Foi o mesmo que nada falou quando o árbitro não deu um pênalti claro contra o Botafogo na mesma competição nas quartas...

Já o Cuca é o cara que deixou o time após o vexame contra o River Plate e voltou menos de dez dias depois. Esta semana, declarou-se insone, alegando que nem dorme pensando no julgamento que vai analisar as confusões em campo na Taça GB. Foi mais longe, afirmando: “se eu souber que faço mal ao futebol do Rio, vou embora”. Mais depressivo só os conflitos no Iraque, a fome no continente africano ou qualquer desses males que assolam o planeta.

O Túlio que esbraveja contra a comemoração do Souza foi aquele que dias antes, pediu para ser sacado do jogo quando o Flamengo empatou; foi aquele que aconselhou botafoguenses a não irem ao estádio por conta do “complô” que impede o Botafogo de vencer; foi o que disse que só jogaria o Campeonato Carioca porque era obrigado por contrato...

A lista dos dramas alvinegros é maior, é quase interminável. Vou deixar de fora o doping de Dodô ano passado, o choro coletivo no vestiário ou as teorias conspiratórias. O que realmente faz o Botafogo perder vai além dos problemas de arbitragem. O fato é que nunca o clube mostrou-se tão fragilizado emocionalmente. Nem nos anos de jejum de títulos, nem na queda para a Segundona, viu-se um Botafogo em frangalhos. E isso, mais do que qualquer coisa, é que deveria ser motivo de discussão entre dirigentes, jogadores e torcedores do clube.
Foto: Agência Lance!

Trophy Tour

Uefa Champions League Trophy Tour Troféu da Uefa Champions League: eu queria um desses em casa

Bonito de longe, mais bonito ainda de perto. Valeu a pena ir na "Uefa Champions League Trophy Tour", promovida pela Heineken. Durante quatro dias (dois em São Paulo e dois no Rio), o troféu do melhor campeonato interclubes do mundo esteve aqui no Brasil.

Segundo os organizadores, cerca de 19 mil pessoas foram ver a Taça da CL. É mais do que o público de muito jogo que rola por aqui. Igualmente impressionante foi notar o enorme número de visitantes que vestiam camisas de clubes europeus (me impressionou também o fato de que vi pouquíssimas camisas da Seleção Brasileira no evento).

Será que algum dia o futebol brasileiro e sul-americano vai aprender a promover seus campeonatos da mesma forma que os europeus fazem? Não custa sonhar...

Foto: Glaucia Marques

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Quando a estrela não brilha...


Botafogo no vestiário: depois de perder o jogo, o time perdeu a razão

Já disseram uma vez que é muito fácil ser nobre quando se vence. Acho que é verdade. Por outro lado, também é muito fácil ser pobre de espírito quando a derrota aparece. E isso ficou muito evidente neste domingo, na decisão da Taça Guanabara.

As coisas que foram ditas no vestiário do Botafogo em nada combinam com a decantada seriedade administrativa que o clube tenta implantar. As palavras, o cenário, os atos e os gestos... Tudo errado. Com perdão antecipado pelo trocadilho, se há algum manual de conduta para as coletivas de imprensa no futebol, o “Fogo” queimou.

Erros de arbitragem? Sim, eles aconteceram. Aconteceu quando Marcelo de Lima Henrique não deu um recuo de bola do Léo Moura para o Bruno; aconteceu quando ele expulsou Zé Carlos e não Castilho; aconteceu quando ele deixou que os jogadores dos dois times o peitassem sem tomar a atitude devida. Errou ao não expulsar Ferrero, que poderia ter feito com Cristian o que Martin Taylor fez com Eduardo Silva no sábado. Mas não, ele não errou ao dar o pênalti, no qual Fábio Luciano quase ficou sem camisa; também não errou ao expulsar Lúcio Flávio, cujo comportamento não foi o de um monge beneditino. Por tudo que vi, os erros mais decisivos foram do próprio Botafogo.

Errou Cuca, ao recuar demais o time quando estava em vantagem e oferecer campo à reação adversária. Errou Lúcio Flávio, capitão da equipe, ao receber um justo cartão amarelo por reclamação e perseguir Juan, até derrubá-lo por trás, num lance próximo à área do...Flamengo! Errou Wellington Paulista, perdendo gols que poderiam ter escrito outra história. Errou a diretoria, quando montou um elenco bom e esforçado, mas sem peças de reposição.

Aos erros em campo, somam-se os erros fora dele. O volante Túlio afirmou que “se pudesse não jogaria mais o Campeonato Carioca e que se fosse o torcedor botafoguense, não iria mais aos jogos”. Montenegro disparou contra a Federação e a Comissão de arbitragem, acusando-os de serem “rubro-negros de cabo a rabo” e “de apitarem com a camisa do Flamengo por baixo”.

E a Bebeto de Freitas, autoridade máxima do clube, coube o papelão maior: renunciar ao cargo, alegando que “comandava o clube há seis anos e estava cansado de tudo”. Logo depois, retirou os jogadores do vestiário, alegando “que não tinham condição emocional de estar ali”. Foi o único acerto dele. Aliás, meio acerto. Se não tinham condição emocional de estar ali, não deveriam nem ter aparecido no vestiário.

O Botafogo esqueceu de uma frase que bem podia estar estampada no pára-choque do caminhão de erros que o atropelou. Frase batida, mas que serve como luva: “se sua estrela não brilha, não tente apagar a estrela alheia”.

Foto: André Durão/ Globoesporte.com