Site Meter Sem Salto Alto: 06/01/2008 - 13/01/2008

sexta-feira, janeiro 11, 2008

"A Extinção das Amélias da Bola"

Hoje, o "Sem Salto Alto" não vai trazer as minhas palavras... Hoje, pego emprestado as palavras tão bem escolhidas e utilizadas pelo o jornalista Xico Sá, da Folha de S.Paulo, no texto "A Extinção das Amélias da Bola". Tomei a liberdade de reproduzir integralmente a coluna publicada neste 11 de janeiro. Porque essa foi a melhor forma que encontrei de dizer "muito obrigada" ao autor.

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A extinção das Amélias da bola

Nos dias de hoje, não há uma só fêmea na face da Terra que não saiba o que é voleio, sem-pulo, drible da vaca...

AMIGO TORCEDOR , amigo secador, não se trata de sentimento vulgar e machista, embora o temperamento latino sempre nos ponha em situações desse naipe, mas ando com saudade descomunal de uma mulher que não entende patavinas de futebol. Daquelas que perguntavam para que lado a seleção estava atacando, daquelas que, uma vez no estádio, pediam para ser apresentadas à bola, muito prazer, encantada, fulana de tal, às ordens.
Daquelas que comentavam só sobre as pernas do Leão nos anos 70 e se engraçavam pelo Raí no São Paulo, daquelas que mui antigamente amavam o Heleno de Freitas, o mais vaidoso dos craques. Daquelas que não estavam nem aí para a infantilidade ludopédica do macho. Sim, as mulheres bem normais de outrora.
Sinto muito, amigo, é mais fácil cessar o conflito no Oriente do que achar uma destas crias da nossa costela. É mais fácil d. Sebastião, o encoberto, volver da batalha de Alcácer-Quibir, no reino do vai-sem-volta. A mais desligada das fêmeas, amigo, é capaz de discorrer hoje sobre o esquema 3-5-2 como um João Saldanha, um Tostão, um PVC, um bamba. Nem mesmo a lei de impedimento, que era o grande enigma -maior até do que a falta do telefonema masculino do dia seguinte-, é mais problema. A ponto de o amigo Pereira, velho porco-chauvinista do Brooklin Novo, apelidar a sua amada de Estelinha Tira-Teima. Foi-se o tempo em que as moças, Amélias ludopédicas, adotavam o time de seus homens como o do coração. Agora não tem mais disso, viraram todas umas Simones de Beauvoirs, inflamadíssimas nas defesas das próprias cores. Outro dia ouvi de uma amiga até paráfrase da citada escritora: "Não se nasce torcedora, torna-se torcedora". Calei-me na hora, no que ela aproveitou para se despedir com imitação exemplar do Avallone: "Não se nasce torcedora, torna-se torcedora. Exclamação!". Fêmea culta são outros quinhentos. A amiga estava parafraseando, como me socorre aqui o poderoso São Google, uma frase da mulher do mala do Jean-Paul Sartre: "Não se nasce mulher, torna-se mulher".
Outras ninfas, mais safas, adotam posição submissa por esperteza. Sabem que, quando o time dele triunfa, o mancebo fica 26,7% mais testosteronizado, ou seja, mais devoto aos bambuais do "kama sutra". Sério. Coisa de uma dessas pesquisadoras americanas malucas, que acompanhou, na Copa de 94, grupo de marmanjos antes e depois das pelejas.
Nesse aspecto, amigo, imagina o que não passaram as desalmadas minas dos corintianos no final do ano passado! Seu Chico da Cuíca, o único e solitário torcedor do Íbis, o pior do mundo, nunca em vida aceitaria a tese gringa. "Vade retro com essa marmota!", diria no seu ponto de táxi no Recife. "Comigo não tem esmorecimento para estas artes."
Estou condenado à nostalgia, essa doença infantil dos quarentões, não há uma só fêmea na face da Terra que não saiba o que é sem-pulo, drible da vaca... Para completar a desgraça, a baiana Clara Albuquerque, bela colega de ofício, lançou livro estupendo sobre o riscado: "A linha da bola -tudo o que as mulheres precisam saber sobre futebol e os homens nunca souberam explicar!". Parabéns, meninas, a febre nostálgica que estava aqui acabou de ir embora.
Texto: Xico Sá/Folha de S.Paulo - 11.02.2008

quarta-feira, janeiro 09, 2008

Jóias raras

Time do Fla tem tudo para arrebentar na Copa SP


Início do ano é isso mesmo: pouco futebol nacional na TV e, para piorar o cenário, mais uma edição do Big Brother. Não vejo graça em ficar olhando um monte de gente trancafiada em uma casa. Para mim, isso é coisa de fofoqueira. Só “fico de olho” em marmanjo quando o assunto é futebol.

Enfim... Definitivamente não vou falar do BBB (que bem poderia ser “Big Besteirol Brasil”). Vou falar é da Copa São Paulo de Juniores. Enquanto rola a “pré-temporada” por aqui, a Copinha garante as doses de futebol brasileiro que meu organismo precisa para não ter tremores ou febre. Acabei de assistir ao jogo no qual o Flamengo goleou o modesto Ypiranga, do Amapá, por 11 a 1.

E o que vi me impressionou. Não posso dizer que o rubro-negro é favorito na competição. Isso seria chute demais, já que estamos na 2ª rodada de uma competição que envolve 88 equipes. Mas digo, sem medo de errar, que o time é um dos melhores desta edição da Copa SP. Pode ter equivalente; melhor, acho difícil.

O Flamengo tem um time extremamente técnico em todos os setores. Na defesa, conta com dois laterais (Jorbison e Michel) que apóiam bem e não comprometem na marcação, além do bom zagueiro Fabrício (seguro, técnico, com bola habilidade e que ainda vai ao ataque com categoria). O ataque tem o jovem Paulo Sérgio (que precisa de mais continuidade para mostrar seu futebol na equipe principal) e Pedro Beda (goleador que também constrói ótimas jogadas). No meio, os volantes Peka e Lenon desarmam e armam jogadas. Renan e Erick Flores completam o setor. Aliás, vou anotar este nome: Erick Flores. Este é jóia rara, a ser lapidada com carinho. Tem MUITO futebol. Gasta a bola. E se tudo correr bem - e nenhum clube europeu aparecer no caminho – tem todas as possibilidades de brilhar como profissional no clube carioca.

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Aliás, vendo o trio Erick Flores, Paulo Sérgio e Pedro Beda em ação, me pergunto se o atacante habilidoso que o clube tanto procura para o time principal não está mais perto do que os dirigentes flamenguistas imaginam...
Foto: Lancepress

domingo, janeiro 06, 2008

Retrato do Rio

Comparando os participantes dos campeonatos estaduais do Rio em 2008 e há 30 anos, percebi uma mudança que não se resume ao número de participantes (dezesseis clubes na edição deste ano contra doze na edição de 1978). A comparação entre as duas tabelas nos mostra uma mudança significativa na sociedade do Rio de Janeiro.

Três décadas atrás, o campeonato estadual do Rio tinha como participantes: América, Bangu, Bonsucesso, Botafogo, Campo Grande, Flamengo, Fluminense, Madureira, Olaria, Portuguesa, São Cristóvão e Vasco. Para quem não conhece o Rio, a maior parte destes clubes levava nomes de bairros cariocas (Bangu, Bonsucesso, Campo Grande, Madureira, Olaria e São Cristóvão, além dos grandes Flamengo e Botafogo). Era uma época onde os subúrbios prosperavam. No fim da tarde, os moradores destas áreas ainda podiam colocar as cadeiras nas calçadas. Era um tempo onde o radinho de pilha era o melhor amigo dos torcedores e estes – apesar de geralmente torcerem por um dos quatro grandes clubes – tinham orgulho de ir aos estádios modestos do clube das redondezas. Mesmo quando a equipe não levava o nome do bairro – casos de América e Portuguesa, representantes da Tijuca e da Ilha do Governador, respectivamente – o que se via era uma maior proximidade entre os times menores e o torcedor. O campeonato fazia jus ao adjetivo “carioca” (*).

Hoje, a tabela nos mostra outra realidade. Os clubes de bairro deram lugar aos clubes de cidades vizinhas à capital (e cujas prefeituras, muitas vezes, contribuem financeiramente com as equipes locais). Assim, tem vez agora o Cardoso Moreira, o Cabofriense, o Duque de Caxias, o Friburguense, o Macaé, o Mesquita, o Volta Redonda e o Resende (que levam o nome das regiões de onde vêm), sem contar o Americano (oriundo de Campos) e o Boavista (de Saquarema). Agora, o campeonato não é mais “carioca” e sim “fluminense” (*).

Nada contra as cidades vizinhas terem seus representantes no Estadual do Rio. O duro é ver que isso aconteceu no mesmo compasso que o subúrbio carioca ficou entregue à violência e ao descaso dos governantes. Assim como fábricas, lojas e comerciantes que simplesmente fecharam ou mudaram-se dos bairros suburbanos, o futebol também deu adeus a estes locais. E levou junto um pouco do charme e da tradição dos campos cariocas.

(*) Carioca - relativo à cidade do Rio de Janeiro, capital do Estado do Rio de Janeiro, ou o que é seu natural ou habitante. Fluminense - relativo ao Rio de Janeiro, estado do Brasil, ou o que é seu natural ou habitante.