Site Meter Sem Salto Alto: Retrato do Rio

domingo, janeiro 06, 2008

Retrato do Rio

Comparando os participantes dos campeonatos estaduais do Rio em 2008 e há 30 anos, percebi uma mudança que não se resume ao número de participantes (dezesseis clubes na edição deste ano contra doze na edição de 1978). A comparação entre as duas tabelas nos mostra uma mudança significativa na sociedade do Rio de Janeiro.

Três décadas atrás, o campeonato estadual do Rio tinha como participantes: América, Bangu, Bonsucesso, Botafogo, Campo Grande, Flamengo, Fluminense, Madureira, Olaria, Portuguesa, São Cristóvão e Vasco. Para quem não conhece o Rio, a maior parte destes clubes levava nomes de bairros cariocas (Bangu, Bonsucesso, Campo Grande, Madureira, Olaria e São Cristóvão, além dos grandes Flamengo e Botafogo). Era uma época onde os subúrbios prosperavam. No fim da tarde, os moradores destas áreas ainda podiam colocar as cadeiras nas calçadas. Era um tempo onde o radinho de pilha era o melhor amigo dos torcedores e estes – apesar de geralmente torcerem por um dos quatro grandes clubes – tinham orgulho de ir aos estádios modestos do clube das redondezas. Mesmo quando a equipe não levava o nome do bairro – casos de América e Portuguesa, representantes da Tijuca e da Ilha do Governador, respectivamente – o que se via era uma maior proximidade entre os times menores e o torcedor. O campeonato fazia jus ao adjetivo “carioca” (*).

Hoje, a tabela nos mostra outra realidade. Os clubes de bairro deram lugar aos clubes de cidades vizinhas à capital (e cujas prefeituras, muitas vezes, contribuem financeiramente com as equipes locais). Assim, tem vez agora o Cardoso Moreira, o Cabofriense, o Duque de Caxias, o Friburguense, o Macaé, o Mesquita, o Volta Redonda e o Resende (que levam o nome das regiões de onde vêm), sem contar o Americano (oriundo de Campos) e o Boavista (de Saquarema). Agora, o campeonato não é mais “carioca” e sim “fluminense” (*).

Nada contra as cidades vizinhas terem seus representantes no Estadual do Rio. O duro é ver que isso aconteceu no mesmo compasso que o subúrbio carioca ficou entregue à violência e ao descaso dos governantes. Assim como fábricas, lojas e comerciantes que simplesmente fecharam ou mudaram-se dos bairros suburbanos, o futebol também deu adeus a estes locais. E levou junto um pouco do charme e da tradição dos campos cariocas.

(*) Carioca - relativo à cidade do Rio de Janeiro, capital do Estado do Rio de Janeiro, ou o que é seu natural ou habitante. Fluminense - relativo ao Rio de Janeiro, estado do Brasil, ou o que é seu natural ou habitante.

2 comentários:

Unknown disse...

Legal ver por este lado. Realemente não vejo mais aquele ambiente de antigamente onde a maior alegria do cidadão da periferia era esperar o fim de semana pra ir no campo.

Triste realidade.

Abraços!
http://pandegosepatuscos.blogspot.com/

Edu Zanardi disse...

Olá Glaucia. Achei o SSA através do Pandegão e gostei. Muito bom, parabéns.

Quanto ao texto, excelente ponto de vista. Sai o romantismo entra o futebol empresário!

Visite O Fino Da Bola, estamos carentes de participações femininas!

Abs

http://ofinodabola.zip.net