Site Meter Sem Salto Alto: 25/03/2007 - 01/04/2007

quarta-feira, março 28, 2007

A hipocrisia precisa de cartão vermelho

Hora de levantar a cabeça, mas sem hipocrisia.


Nos últimos dias, a mídia esportiva brasileira tem tocado o “samba de uma notícia só”. Só se fala no milésimo gol de Romário e suas variações em torno do mesmo tema. Infelizmente, esta postura está deixando passar uma oportunidade de levar a fundo um assunto: o uso de drogas entre jogadores de futebol, motivado pelo doping de Renato Silva, do Flu.O caso chegou ao noticiário no último dia 22. O Lance!, sempre na dianteira, chegou a publicar uma matéria na qual um renomado jogador, que não revelou o nome, declarou que “o uso de drogas como maconha, cocaína e ecstasy é muito comum no meio do futebol, sobretudo entre jogadores ricos e famosos, até mesmo da Seleção Brasileira”.Me espantei não pela notícia em si, mas pela falta de barulho, de repercussão. Será que é pedir muito discutirem o tema? O fato é que, infelizmente, essa atitude não é exclusiva do futebol. Muito se fala nas ruas a respeito da violência, do poder de fogo dos traficantes, da inoperância das autoridades públicas. Violência, inclusive, que muitos jogadores usam como álibi para jogar no exterior. Querem preservar “a segurança da família”. Não seria hora de discutir o quanto as drogas são usadas (e aceitas) pela sociedade em geral? E, principalmente, discutir o poder devastador desse uso, nem sempre tão velado e cada vez mais difundido, para a vida das pessoas – da saúde à segurança pública? Nunca usei drogas e me orgulho disso. Oportunidade sempre há. Vontade nunca houve. Não consigo desvencilhar o pensamento que um “cigarrinho inocente” envolve um esquema sórdido, que envolve a destruição de muita gente. Não sei quanto custa, mas qualquer centavo que seja, não será usado para nada positivo. Meu exemplo veio de casa, graças a Deus. Mas para quem não teve isso, não seria obrigação da mídia tocar nessa ferida sem hipocrisia? Ainda mais se o problema é tão freqüente no esporte, que, a meu ver, tem influência suficiente para mostrar o que é certo e o que é errado para as pessoas. O futebol, paixão do brasileiro, podia dar um cartão vermelho nessa hipocrisia e liderar um movimento de conscientização contra a banalização do uso das drogas.


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Renato Silva é um bom zagueiro e muito novo ainda. Não tenho dúvidas: se tiver vontade, pode aprender a lição, dar a volta por cima e ainda servir de exemplo. Só torço para que não seja mal orientado. Quando vejo que os advogados do atleta pensam em processar o Fluminense pelo modo como o jogador foi dispensado, temo um pouco por isso. Era hora de trabalhar calado, assumir o erro e não jogar nas costas do clube ou de quem quer o peso da culpa pelos próprios atos.




Foto: Marcos Arcoverde / FOTOCOM.NET