Site Meter Sem Salto Alto: 27/04/2008 - 04/05/2008

quinta-feira, maio 01, 2008

O que é importante?



Sei que o que é importante para mim não é para os outros. Cada ser humano tem suas prioridades, seus códigos, seus valores. Mas me assusta um pouco determinadas posturas da imprensa e do público em geral no que se refere ao futebol.
Vejamos: no último domingo (27/04), veio a público uma matéria na qual o atacante Jardel admitiu o vício em cocaína. No dia seguinte, outro fato fora das quatro linhas chamou atenção: o jogador Ronaldo envolveu-se num escândalo com três travestis em um motel – e nem vou detalhar nada sobre isso porque é grande a possibilidade que você, que está lendo o “Sem Salto Alto” agora, saiba exatamente do que se tratou a história.
Não me espanta que os dois acontecimentos repercutam. O que me aflige mais é a diferença de peso atribuído a cada um. Não vou discutir ou julgar opções estritamente pessoais. As opções “públicas” é que estão distorcidas a meu ver. Reverberar com quem Ronaldo ou qualquer outro anda, bem como suas atividades nas horas de lazer não deveria ser mais importante do que discutir mais a fundo questões mais profundas no futebol. Como por exemplo, o uso de drogas – lícitas ou não – no mundo da bola. Brincar ou fazer piadinha do constrangimento de um jogador ou colocar em dúvida suas opções sexuais não poderia ser prioridade diante de procurar as causas, as conseqüências e as possíveis soluções para que futebol e drogas não entrassem em campo de mãos dadas.

Some-se o mea culpa de Jardel à recente entrevista de Léo Lima, na qual o meia admitiu o envolvimento com bebida; junte também o alcoolismo de Adriano e do argentino Ortega e o doping por uso de maconha do zagueiro Renato Silva; acrescente também os casos de Garrincha, Reinaldo, Casagrande e Maradona. O resultado é um retrato estarrecedor do futebol de ontem e de hoje. Um problema sem extensão precisa, cuja única evidência real é que se trata de algo maior e mais grave do que aparenta a superfície. Isso sim deveria repercutir em charges, colunas, comentários, manchetes, notícias. E repercutir não como instrumento de julgamentos morais, mas como julgamentos de mazelas sociais.

Argumentem o que for: contesto o que é tomado por “importante” atualmente.Há coisas mais obscuras no futebol que uma noitada mal-sucedida. E por isso, me assusta mais a confissão de Jardel do que qualquer escândalo em motel. Rimou? Pois é... Mas o pior mesmo é que o futebol – brasileiro e mundial – anda fazendo versos tristes por aí, mas nada disso importa se aparecer um travesti. Rimou de novo. Só que não há beleza poética em nada disso.

quarta-feira, abril 30, 2008

A difícil tarefa de ser vencedor

O Fla corre contra o cansaço e os adversários O Fla corre contra o cansaço e os adversários

O futebol atual tem seus dilemas de Tostines. Um deles é: vencer para ser clube de ponta ou ser clube de ponta para vencer?

Apesar de palavras como “planejamento” e “meta” ainda não fazerem parte constante do vocabulário dos dirigentes, os clubes que almejam ser vencedores são “punidos” por isso. Num calendário apertado, os times que efetivamente chegam às finais enfrentam adversários como o cansaço físico, as viagens constantes e os compromissos sucessivos em espaços curtos.

Temos bons exemplos aqui mesmo, no Brasil. O São Paulo é um. Após duas temporadas de sucesso e títulos, o time paulista sofre com uma queda de produção em 2008. Mais do que a perda de alguns jogadores e contratações falhas, percebe-se um esgotamento da equipe.

Algo semelhante foi visto com o Internacional ano passado, após um 2006 vitorioso. Um ano de glórias deu lugar a um ano de decepções, com um 11º lugar no Brasileirão, eliminação no Campeonato Gaúcho e desclassificação da Libertadores ainda na fase de grupos.

Este ano, o Flamengo já sofre com a tarefa de tentar ser vencedor nas competições que participa. Classificado para a final do Estadual do Rio, o rubro-negro já dá sinais de uma possível “falta de pernas” por disputar também a Libertadores.

Mas não há solução aparente para o problema. Para manter as contas em dia, faturar com a torcida, manter-se em exposição na mídia (para atrair patrocinadores e parceiros) e claro, conquistar títulos, os clubes precisam mesmo enfrentar tal maratona. O que falta, talvez, é determinar metas realistas e saber priorizar o que for mais importante. Como qualquer general que quer conquistar batalhas ou uma empresa que quer conquistar mercados. Vencer dá trabalho e é preciso saber o que fazer com ele. Difícil é a tarefa de ser clube de ponta. Porque não basta chegar lá; é preciso também continuar nela.
Foto: Maurício Val /Fotocom.net