Site Meter Sem Salto Alto: O que é importante?

quinta-feira, maio 01, 2008

O que é importante?



Sei que o que é importante para mim não é para os outros. Cada ser humano tem suas prioridades, seus códigos, seus valores. Mas me assusta um pouco determinadas posturas da imprensa e do público em geral no que se refere ao futebol.
Vejamos: no último domingo (27/04), veio a público uma matéria na qual o atacante Jardel admitiu o vício em cocaína. No dia seguinte, outro fato fora das quatro linhas chamou atenção: o jogador Ronaldo envolveu-se num escândalo com três travestis em um motel – e nem vou detalhar nada sobre isso porque é grande a possibilidade que você, que está lendo o “Sem Salto Alto” agora, saiba exatamente do que se tratou a história.
Não me espanta que os dois acontecimentos repercutam. O que me aflige mais é a diferença de peso atribuído a cada um. Não vou discutir ou julgar opções estritamente pessoais. As opções “públicas” é que estão distorcidas a meu ver. Reverberar com quem Ronaldo ou qualquer outro anda, bem como suas atividades nas horas de lazer não deveria ser mais importante do que discutir mais a fundo questões mais profundas no futebol. Como por exemplo, o uso de drogas – lícitas ou não – no mundo da bola. Brincar ou fazer piadinha do constrangimento de um jogador ou colocar em dúvida suas opções sexuais não poderia ser prioridade diante de procurar as causas, as conseqüências e as possíveis soluções para que futebol e drogas não entrassem em campo de mãos dadas.

Some-se o mea culpa de Jardel à recente entrevista de Léo Lima, na qual o meia admitiu o envolvimento com bebida; junte também o alcoolismo de Adriano e do argentino Ortega e o doping por uso de maconha do zagueiro Renato Silva; acrescente também os casos de Garrincha, Reinaldo, Casagrande e Maradona. O resultado é um retrato estarrecedor do futebol de ontem e de hoje. Um problema sem extensão precisa, cuja única evidência real é que se trata de algo maior e mais grave do que aparenta a superfície. Isso sim deveria repercutir em charges, colunas, comentários, manchetes, notícias. E repercutir não como instrumento de julgamentos morais, mas como julgamentos de mazelas sociais.

Argumentem o que for: contesto o que é tomado por “importante” atualmente.Há coisas mais obscuras no futebol que uma noitada mal-sucedida. E por isso, me assusta mais a confissão de Jardel do que qualquer escândalo em motel. Rimou? Pois é... Mas o pior mesmo é que o futebol – brasileiro e mundial – anda fazendo versos tristes por aí, mas nada disso importa se aparecer um travesti. Rimou de novo. Só que não há beleza poética em nada disso.

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