Site Meter Sem Salto Alto: A imprensa e o mea culpa

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

A imprensa e o mea culpa


Mea culpa. O significado desta expressão latina é bem conhecido: “por minha culpa; locução encontrada no ato de confissão e que se aplica nos casos em que a pessoa reconhece os próprios erros”. Não vejo nada mais aplicável à imprensa esportiva, principalmente a espanhola, no que se refere ao imbróglio em que se encontra o “Real Madrid”.

Na semana passada, após a ida de Ronaldo para o Milan, o jornal Sport não mediu palavras: nomeou o Fenômeno como ‘mercenário’, por ter atuado por quatro clubes em 11 anos. O argumento, em si, já seria insustentável: se os jogadores vão e vêm dos clubes sem criar vínculo algum, muito se deve ao mercantilismo da bola, largamente difundido principalmente pelos clubes europeus (Real Madrid e Chelsea podem encabeçar a lista). Sem pensar muito, lembro o nome de Fernando Morientes, que em quatro anos (de 2003 a 2007), atuou em quatro clubes (Real Madrid, Mônaco, Liverpool e Valencia). Ronaldo é mercenário? Acho que não, Sport. Outros dois diários esportivos espanhóis, apesar de pegarem leve com Ronaldo em sua saída, vinham culpando o brasileiro e sua “gordura” pelos maus resultados do time merengue.Nesta segunda (05/02), após a rodada do fim de semana na qual o Real Madrid perdeu por 1 a 0 para o Levante (prazer, meu nome é Glaucia) dentro do Santiago Barnabéu, os três diários esportivos apontaram o culpado em suas capas: Fábio Capello. O Ás afirmou com todas as letras: “Todos os seus tiros (de Capello) saíram pela culatra. Entre os méritos dele está o de ter feito de Ronaldo um santo. O nome do atacante apareceu em meio aos lamentos dos torcedores, que, tão castigados pelos fracassos, acostumaram-se a fazer por menos o mês anterior, quando éramos gordos, mas felizes, ou ainda o anterior a esse, quando éramos irritados, mas esperançosos”.


Não defendo Capello; ao contrário, acho que ele agiu de forma arrogante e desrespeitosa com um ídolo com a história de Ronaldo. Independente da forma atual, por tudo que já fez e passou no futebol, o atacante merecia sim, mais respeito.

Mas... o que dizer da atitude da imprensa? Até quando os veículos, colunistas, repórteres vão nomear bruxas e promover caça às mesmas em suas páginas, de forma tão incisiva (e cruel)? E isso não é ‘privilégio’ da imprensa espanhola; a imprensa esportiva mundial cria mitos da noite para o dia, molda pés de barro para jogadores, técnicos e equipes, numa espécie de olaria que alia letras e imagens escolhidas a dedo para explorar a paixão dos torcedores. Basta lembrar que o hoje ‘problemático Real Madrid’ era o ‘galáctico Real Madrid’ (antes mesmo de entrar em campo e ter resultados que justificassem o apelido).

Não seria hora de questionar o papel da imprensa esportiva para a sociedade? Não seria hora de deixar que determinados comportamentos ficassem restritos aos torcedores e não mais aos formadores de opinião?

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