Site Meter Sem Salto Alto: Créu na paciência

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Créu na paciência

Ronaldo Angelim comemora sem frescuras ou dancinhas: alegria não tem coreografia

A moda começou nos anos 90. Não tenho estatísticas sobre o tema, mas a primeira vez que vi algo do gênero foi em 1991. Flamengo e Botafogo decidiram a Taça Rio (2º turno do Estadual) e o atacante rubro-negro Gaúcho prometeu fazer o gol Xuxa, que garantiria “beijinho, beijinho, tchau, tchau” ao adversário. Gaúcho fez o gol e a dança tirando sarro do adversário. Ele mesmo faria isso mais vezes – dançando ou apenas batizando gols com irreverência.
Daí em diante, a lista de jogadores que aderiram ao modismo foi grande, interminável. Até empresas aproveitam a onda para aparecerem, como foi o caso do da Brahma (com o gesto de número 1 feito por vários jogadores do Brasil em 1994) ou da Nike, que pediu aos jogadores que patrocina para imitarem o gesto usado por Ronaldo Fenômeno como forma de dar força ao jogador a superar sua mais nova contusão (Fábio Luciano, do Flamengo, assim o fez, contra o Vasco). Exemplos não faltariam.

E a cada rodada, a cena se repete nos gramados. Fulano faz gol, lá vem uma dancinha. Beltrano marcou? Um gesto coreografado. X cruzou para Y abrir o placar? Pintam os trenzinhos, os passinhos de funk, samba, cumbia, forró ou coisa que valha. Sem contar os recados apaixonados para a mãe, o pai, a esposa, o filho, o papagaio, em conversas com a câmera atrás do gol.

O que me impressiona é que os jogadores de futebol só se preocupem em passar mensagens para as câmeras ou só queiram ser criativos quando comemoram um gol. Diante de um microfone, a maior parte deles não têm nada diferente a falar. Gaguejam, abusam dos chavões, erram conjugação. Imagem? Ah, importa só aquela da hora do gol.

Grande erro. Não só porque é tênue a fronteira entre irreverência e provocação. Mas principalmente porque o que era original, agora é lugar-comum. Tenho saudades do tempo que o jogador que marcava se deixava levar pela mesma emoção do torcedor. Gritava, corria, levantava os braços, se jogava na grama, se entregava ao inexprimível. Coreografia é coisa de caso pensado e a emoção do gol, para mim, passa longe do racional.

O zagueiro Ronaldo Angelim, convocado a fazer a “Dança do Créu” ao marcar o gol da vitória do Flamengo contra o Vasco, declarou: “Dançar o créu não leva a nada. Tem que respeitar o adversário”. Não só o adversário, mas a torcida também. Quisesse eu ver tantos passos de dança, iria ao balé. Até agora, a tal dança só deu “créu” na minha paciência.
Foto: Marcia Feitosa/FOTOCOM.NET

3 comentários:

Edu Zanardi disse...

Salve Sócrates com o punho erguido. Salve Neto com os joelhos no chão e o soco no ar... mas também salve Viola!

abs

Edu Zanardi

Unknown disse...

Edulla lembrou bem. O carrinho de joelhos do Neto me marcou muito, mas é impossível esquecer a comemoração de porco e a do orelhão, do Viola.

Eu, no auge dos meus 11 anos, jogava a Copa SESI pelo time do treinador Lazaretti, que era bom time. Eu marcaria um gol de sem pulo depois e um escanteio e repetiria o gesto do Neto, de frente para o meu pai na Arquibancada. 10 minutos depois eu era substituído, mas o gesto mais uma vez foi imortalizado, desta vez, na mente do meu pai.

Créu! hehe

Beijão, Glaucia!

Victor Hugo Antinossi disse...

Acho legal certas comemorações. Muitas delas dão alegria aos torcedores, sem dúvida.

Mas em relação em falar ao microfone, acredito que exista uma padronização nas perguntas pelos repórteres. Muitos fazem as mesmas..e o jogador vai dizer o mesmo.


O drama de Ronaldo:
http://futegol.blogspot.com