Site Meter Sem Salto Alto: Primeiro Mundo não...

domingo, julho 01, 2007

Primeiro Mundo não...

Engenhão: é preciso ir além da beleza arquitetônica Engenhão: é preciso ir além da beleza arquitetônica

“De Primeiro Mundo”. Essa é a expressão mais comum para se referir ao Estádio Olímpico João Havelange, o “Engenhão”, inaugurado ontem (30/06) com o clássico Fluminense x Botafogo. Realmente, o estádio é muito bonito. A estrutura é vistosa, de arquitetura diferente em relação aos outros estádios no Brasil. Foi concebido para ser grandioso, atraente. Mas não vamos nos enganar: o Primeiro Mundo passa bem longe do Engenhão, como passa longe de todos os estádios no Rio de Janeiro, de São Paulo, de Minas Gerais. Passa longe do Brasil.


Não fui ao jogo, mas fiz questão de dar uma volta no entorno do estádio. E o que vi foi algo que destoa – e muito – da idéia de “Primeiro Mundo”. Porque para ser de “Primeiro Mundo” é preciso mais que um estádio moderno. É preciso modernizar também a mentalidade das pessoas que o administram e dos torcedores que o freqüentam.
O esquema de trânsito foi confuso, causou transtornos. Interditar as ruas em volta para evitar estacionamento irregular e engarrafamentos não é coisa de “Primeiro Mundo”. É coisa de cidade mal-planejada, de espaço urbano mal-administrado, de vias públicas obsoletas e saturadas.
Confusão na entrada também não dá acesso ao “Primeiro Mundo”. Nem banheiros que não têm papel higiênico ou bares que não dão vazão ao público que recebe. Isso é infra-estrutura deficiente, péssimo planejamento, total desconhecimento do evento que está sendo promovido.
Passarelas inacabadas, que deveriam fazer a ligação entre o estádio e a estação de trem também não é “Primeiro Mundo”. É sinal de “obra feita nas coxas”, é desrespeito com quem usa esse transporte e incoerência – já que era expressamente recomendado que o público utilizasse o transporte ferroviário para chegar ao local.
Até agora, falei somente de problemas de organização. Mas falta também educação. Porque o que faz mesmo um lugar ser de primeiro ou quinto mundo não é uma obra arquitetônica, mas a educação de quem nele vive.
E o pobre Engenhão parece fadado aos maus-tratos e ao descaso típicos de um povo que não valoriza o que tem.Vi um grupo de torcedores que se orgulhava de “dar a primeira mijada” nos muros do estádio. Outro grupo, em mais uma exibição lamentável de falta de higiene e respeito, urinar na frente de crianças, de senhoras. Vi gente jogando latas, garrafas, papéis e toda sorte de lixo no chão. Vi gente se empurrando para tentar entrar primeiro. Sem contar a loucura que muitos cometeram para tentar “fugir do trânsito” ou “conseguir uma vaga”, a marra e a postura marginal das torcidas “organizadas” e o desrespeito a qualquer norma de cidadania.
Então, melhor dar outro tom ao discurso: não, não viramos “Primeiro Mundo” de uma hora para outra. Para isso, é preciso ir muito além do que construir "Engenhões": tem que ter educação – e educação no sentido mais amplo da palavra, aquela que molda as atitudes do ser humano, seja ele um administrador de estádio ou um torcedor.
Foto: Divulgação

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